As palavras que baixam neste livro foram catadas na hora grande. Antes de serem aqui chamadas para segurar essa toada, elas corriam mundo sendo mata, esquina, terra, criança, bicho, espírito, festa, remédio e veneno. Elas foram maceradas, banhadas no sereno, sopradas com o segredo confiado pelos que vieram antes e costuradas em um tecido fino. Delas foi feito um patuá para espantar a má sorte.
Elas caçam um jeito de se aconchegar em algo que possa vadiar, driblar, gargalhar, roçar, bater perna e botar a existência para jogo. Elas sabem que sendo corpo podem mais. A artimanha de fazer do corpo um brinquedo de batalha abre caminho para o jogo. Assim, nesse jeito vadio de memória e comunidade.
Se a educação é um radical da vida e aprender diz sobre as nossas itinerâncias, a força da educação vibra no corpo e seus enredamentos se tecem nas relações com outros brincantes, jogadores, artistas e arteiros. Esses são os íntimos das formas de cair bonito, balancear, esquivar, caçar vazios e entrar no momento certo. A educação aqui é encarada como uma capoeiragem. Dessa maneira, sinto que uma das suas tarefas é virar ponta-cabeça.
Quem adentrar essa roda jogará com mestres, quintais, roças, sambaquis, crianças, avós, vaqueiros, lavradores, sambistas, encruzilhadas, mortos, xamãs, erveiras, retirantes, entre outras presenças e saberes. Nessa roda a educação é o patuá que fecha o corpo contra o quebranto posto. De corpo fechado bendiremos o chão, os ancestrais e lançaremos a rasteira no tempo certo.