Úrsula é um romance de fundação da literatura brasileira, a partir do qual um novo regime representativo é instaurado. A voz inaudita do negro rompe com o silenciamento constitutivo da História e inscreve a memória como bússola de outra navegação, restituindo ao escravizado a condição de sujeito e articulando na figura senhorial a mímesis do poder que a todos oprime.
O primeiro romance publicado por uma mulher no Brasil torna abolicionista e negra a gênese da escrita feminina ficcional. Já Gupeva alinha ao projeto literário radical da autora a presença indígena. Recompondo o encontro entre o índio e o europeu através do conflito, o mito fundador da nação é desarticulado para salientar sua base impossível: nenhum futuro pode ter uma nação nascida da violência enquanto o estatuto de igualdade entre os sujeitos não for uma realidade.