Devemos pensar sobre a negligência em relação ao racismo. Você acha que a "branquitude" evidenciada nos dias de hoje, coloca a discussão sobre racismo nos seus formatos de violência, subalternidade e exclusão numa espécie de negligência?
Eu tratei dessa temática no livro "Kahn Horn" (Palavra & Prece, 2019): um homem branco, de bela aparência, vivia mendigando em frente a uma padaria e, por ser bonito e de cor clara, nem sempre as pessoas queriam ajudá-lo dando alimento ou algum trocado porque achavam que ele não precisava receber e nem mesmo mendigar por que ele era branco e de bela aparência. Então, um dia certo cara passando e vendo o pedinte, lhe disse; "você pedindo esmolas! Vai trabalhar!". Deste modo, Kahn Horn olhando para si mesmo disse: "Kahn, você é trabalhador. Tenha foco em sua vida". Ele acreditou em si mesmo. Mudou de vida. Com isso, no mês seguinte ao abrir a padaria, o gerente Kahn não encontra mais ninguém mendigando naquela porta.
A que distanciar a discussão de preconceito social do racial, porque, a cor da pele aqui ainda tem significado de mau caráter! É um preconceito enraizado na sociedade, que tem sua gênese no período da escravatura! Mesmo que aparentemente a situação mudou de rumo, e que as atrocidades cometidas com os negros "não" são como antes, no período de expansão colonial, ainda assim existe inúmeras formas de violência contra o "preto"! Ou seja, esse preconceito ainda está presente, mascarado, para nós, todavia, talvez pelo discurso de igualdade, que sabemos que não passa da teoria!