Em Palavra: sintoma e gozo, Abraão Carneiro do Carmo Rodrigues presentifica em textos seu percurso formativo como psicólogo e biólogo, tomando a palavra como elo das dimensões psíquicas e corpóreas da subjetividade. Por meio de poemas, breves ensaios e excertos que resistem à classificação dos gêneros textuais, o autor confere às palavras movimentos pendulares que vão do etéreo ao concreto, da insatisfação inquieta à plácida observação da vida em seu cotidiano que, a depender de como se olha, pode ir do banal ao extraordinário. Assim é que, nos textos do autor, o deslocamento não é um meio, mas pode ser um fim em si mesmo e as palavras operam como signos cambaleantes no solitário exercício de construir sentidos, antes de tudo, para quem escreve, mas que ganham vida para quem também lê e recebe cada texto. Abraão mostra que cada palavra pode ser vetor dela mesma ou daquilo que carrega para expressar a produção do sintoma e do gozo; portanto, do que se inscreve em cada um de nós como angústias, vazios, dores, mas também como vivacidade e prazer em estar no mundo, com o mundo e para o mundo, apesar do mundo.
Tiago Sampaio