"Mendigos" é o único livro em prosa de Alphonsus de Guimaraens impresso em vida (1920), reunindo 15 contos, 28 crônicas e um poema. Os temas recorrentes nos contos são a morte, principalmente da pessoa amada, o amor, os amigos e as bebedeiras, enquanto as crônicas abordam religiosidade, história, política, doenças e medicina, com o autor exercendo uma crítica contundente.
Mesmo nos textos mais delicados, há traços de humor, como em "Elias", em que um leproso faz parceria com um cego para aumentar as esmolas, ou em "Jacinto", onde a morte do personagem transforma as vestes de recolha de esmolas em motivo de disputa entre os pilequeiros. A morte, quando protagonista, é tratada de várias formas: em "Death-Club" há homens disputando quem tem direito de morrer, e em "Cavus" a dor de um coveiro diante da sepultura da própria filha expõe um tom dramático. Guimarães, bem informado das artes, ciências e política, insere nas crônicas inúmeras citações e referências históricas, como nas divertidas "Missal estranho" e "Nos domínios da história". A religiosidade aparece com força, não só pela frequência, mas pela prática de fé em textos como "S. Roque, o Miraculoso Confessor" e "Jubileu em Conceição do Serro".
Apesar do vocabulário rico e complexo, com termos pouco comuns e palavras aportuguesadas, o conjunto desta obra revela o cuidado de Alphonsus de Guimaraens com a linguagem, nos oferecendo uma leitura prazerosa com seu humor e espirituosidade.