|
Noor Inayat Khan (1914-1944) foi uma princesa indiana e espiã britânica que se tornou uma heroína. Guerras são movidas por ruidosos exércitos e poderio bélico, mas também são vencidas por trabalhos sigilosos e algumas pessoas que, no anonimato, dão suas vidas pela liberdade de nações inteiras. A presença de mulheres em momentos-chave de grandes conflitos vem sendo posta sob os holofotes e uma princesa indiana e espiã britânica é uma cujo trabalho foi responsável por mudar rumos e trilhar caminhos para a vitória dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Por décadas, sua história quase foi esquecida. Quase.
Noor Inayat Khan carregava em si uma ancestralidade plural. Filha de pai indiano e mãe americana, nasceu em 1914, em Moscou, na Rússia, passou parte de sua infância na Inglaterra, cresceu na França e levava em suas veias o sangue dos antepassados. Descendente de Tipu Sultan, conhecido como o Tigre de Mysore, que se recusou a se submeter ao governo britânico, Noor Inayat Khan era uma princesa, muçulmana e pacifista. Nascida em uma família de artistas, com um pai músico e uma mãe poeta, desde nova a princesa demonstrava uma sensibilidade ímpar que transparecia nos poemas que ela também viria a escrever.
Ao final da adolescência, Khan se graduou em Psicologia Infantil em Sorbonne, além de se dedicar à música, mais uma de suas heranças familiares. Dando vazão à sua veia artística, ela começou a escrever histórias para crianças. Com o tempo, foi se tornando reconhecida pelo trabalho e adquirindo certa segurança vivendo de suas histórias, tendo escrito para alguns jornais, revistas e até mesmo para rádios francesas. Um de seus trabalhos publicados, Twenty Jataka Tales, é uma adaptação das histórias ancestrais do budismo que lhe eram contadas quando mais nova.
Durante a Segunda Guerra Mundial, escolheu lutar contra o fascismo unindo-se à Women's Auxiliary Air Force e, depois, ao ultrassecreto Special Operations Executive (SOE), como a primeira mulher rádio-operadora enviada à França ocupada. Sob o codinome Madeleine, atuou corajosamente na resistência francesa, transmitindo informações vitais entre Paris e Londres, até ser traída, capturada e executada pelos nazistas no campo de Dachau. Mesmo sob tortura, jamais revelou informações, tornando-se símbolo de coragem, lealdade e liberdade - palavra que proferiu antes de morrer. Após a guerra, foi condecorada com a George Cross e a Croix de Guerre, recebeu homenagens póstumas no Reino Unido e na França, e teve sua história redescoberta como a de uma heroína que deu a vida pela liberdade de milhões, deixando também um legado literário de fábulas sobre virtude e compaixão.
|